Em diversas esquinas da cidade se pode ver faixas agradecendo a "algum santo", dizendo: "a graça alcançada", assinadas com as iniciais de quem patrocinou a faixa. Sempre que eu encontrava uma dessas, sentia um certo incômodo que não conseguia identificar com exatidão, mas acho que encontrei a sua origem. É preciso reconhecer, contudo e antes de mais nada, que a prática revela uma atitude louvável de gratidão. Quantas e quantas vezes eu, que não creio em santos, pedi coisas a Deus e ao recebê-las no momento exato e da melhor forma, simplesmente esqueci que a graça vinha do Céu. Algumas vezes comemorei intimamente e chamando a coisa toda de coincidência. Mais tarde aprendi a importância de desenvolver um espírito grato e descobri as capacidades terapêuticas de agradecer a Deus o tempo todo por tudo, até as coisas mínimas. Por outro lado, desconfio um pouco de que nem toda faixa agradecendo a "tal santo" seja mesmo um gesto de gratidão espontâneo. Dá a impressão de que as pessoas nutrem a idéia de que "esse tal santo" resolve problemas difíceis, desde que você se comprometa a "fazer publicidade" dele por aí, como se os santos no Céu disputassem entre si a recepção das súplicas e estabelecessem por lá um tipo de tráfico de influências junto a Deus, parecido com o que nossos políticos realizam no Planalto. As faixas seriam, então, mais uma obrigação, sob pena de a tal graça ser tomada de volta, do que legítima e louvável gratidão por uma graça. Tomara que essa minha impressão esteja errada. Mas não era isso o que me incomodava secretamente toda vez que eu via uma faixa dessas na rua. Notei recentemente que a expressão "graça alcançada" esconde, no meu modesto entender, uma contradição. O verbo alcançar pressupõe esforço, dedicação, empenho pessoal. Algo que se alcança, portanto, não vem de graça. Graça implica desmerecimento. Graça é um favor imerecido, um gesto de misericórdia espontâneo e que só deixa ao objeto dela a opção de aceitar e agradecer ou de recusar. A Bíblia descreve um Deus ávido por atender a nossas carências e ouvir nossas súplicas. Não precisamos prometer fazer nada depois para sermos alvos de Seu amor. Não precisamos nos penitenciar nem fazer malabarismos. E se Ele pede que perseveremos em oração, que não desistamos de pedir, que peçamos insistentemente, é porque isso nos ajuda a aprender a dura lição da dependência integral, e não porque Ele tenha que ser convencido a nos amar.
Como nos aconselha o apóstolo Paulo, sejamos agradecidos, isso alegra o coração de Deus e dos homens.